sexta-feira, 3 de abril de 2015

O Acordo Nuclear com o Irã e o Tabuleiro do Oriente Médio


Existem pelo menos três áreas no Oriente Médio de intensas disputas entre o Irã e o eixo Riad-Washington-Telavive: a zona ocupada pelo ISIS na Síria, o entorno de Israel e a guerra civila no Iêmen. Um quarto e decisivo cenário é o programa nuclear iraniano. No entanto, é nesta questão que as principais apostas pela paz devem ser feitas, pois seus efeitos transcendem o próprio programa nuclear e influenciam a região como um todo. O centro do acordo não é apenas o sentido do programa nuclear, mas a construção da confiança entre EUA e Irã e suas consequências.

Nesse contexto, existem três visões prospectivas para a região. Uma visão otimista apostaria no sucesso da implementação do acordo, permitindo a estabilização da região com a construção de um equilíbrio de poder entre Israel, Arábia Saudita e Irã intermediado pelos EUA. Uma visão negativa apostaria na falha do acordo por conta da ação das oposições de Republicanos, Netanyahu e da linha dura iraniana, intensificando assim a rivalidade regional entre os países. Uma visão intermediária e parecida com o atual status quo não apostaria em uma estabilização completa da região, seja porque a implementação do acordo seria apenas parcial, sem mudar a vontade do Irã de efetivamente construir a bomba, ou seja porque as ações de opositores seriam apenas parcialmente eficazes em derrubar o acordo, deixando assim algum espaço para futuros presidentes americanos repactuarem a pressão sobre Teerã.

Nos três cenários, contudo, é provável que o Irã caminhe para um algum tipo de poder nuclear latente, ou seja, o país terá certa de capacidade material para rapidamente construir a bomba e lançá-la com sucesso. É a vitória de um desses três cenários que definirá se a decisão iraniana de construir a bomba e o aparato míssil de lançamento será mitigada, postergada ou eliminada.

Na visão otimista o acordo nuclear com o Irã representaria um novo marco no papel dos EUA no Oriente Médio. Mudaria o eixo de atuação americana, muito centrado em Israel e Arábia Saudita, para a consolidação de um quadrunvirato equilibrado de poder incluindo Teerã. O acordo atual diminuiria as tensões entre Irã e EUA em várias frentes, construindo alguma confiança mútua e fortalecendo a liderança moderada de Hassan Rouhani. Os efeitos sobre as crises regionais seriam positivos. O cerco ao ISIS sairia fortalecido e o regime de Assad na Síria paulatinamente isolado, com a diminuição do apoio iraniano ao Hezbollah. A crise no Iêmen caminharia para alguma forma de equilíbrio entre as forças apoiadas por Teerã e o regime saudita. Neste cenário o Irã alcançaria um poder latente nuclear mais brando e com menor capacidade dissuasória, sendo aceito por Israel e Arábia Saudita em nome do novo status quo regional, mais pacífico.

Na visão pessimista o acordo nuclear seria bombardeado com sucesso pelos opositores nos EUA, Israel e Irã. Haveria uma quebra de confiança entre Washington e Teerã. A atual rivalidade na região se intensificaria com a continuidade do apoio iraniano ao Hezbollah e uma tentativa mais decisiva de Teerã em mudar o regime iemenita a seu favor. O cerco ao ISIS duraria enquanto durasse o grupo, com sua eventual eliminação sendo acompanhada por uma tentativa iraniana de ocupar ao máximo o vazio de poder no Iraque e sendo contrabalanceado por Washington e Arábia Saudita. Ato contínuo, o recrudescimento do acordo faria com que o governo iraniano acelerasse o enriquecimento nuclear, investindo mais esforços na construção de um aparato de mísseis de longo alcance. Esse cenário colocaria o poder nuclear latente iraniano muito perto da linha do aceitável, ensejando possíveis ataques israelenses e sauditas às instalações daquele país.

Na visão intermediária o acordo nuclear não alcançaria seus objetivos plenamente, permitindo ao Irã alguma continuidade, ainda que parcial, do seu programa. Isso manteria o relacionamento entre Teerã e Washington em uma posição ambígua na qual nenhuma das partes conseguiria valorizar na totalidade possíveis acordos futuros. As oposições ao acordo conseguiriam fortalecer parcialmente a ideia segundo a qual o Irã deve ser contido de todas as formas, mas não conseguiriam criar a legitimidade para atacar militarmente o país. As três crises regionais não teriam términos assegurados, pois o Irã continuaria a ser visto como agente desestabilizador. O poder nuclear latente de Teerã caminharia a passos mais lentos, porém sempre almejando construir a bomba. Assim, uma próxima administração estadunidense teria que mais uma vez construir as pontes de negociação, mas provavelmente tendo como contraparte um presidente iraniano não moderado. No fim, o acordo nuclear teria apenas ganhado tempo para futuras negociações.

Como se pode notar, o acordo nuclear iraniano tem como centro a construção de confiança mútua entre os EUA e o Irã. Essa confiança definirá quão forte será o esforço de Washington em conter sua oposição interna e os receios de Israel e Arábia Saudita em relação ao regime dos Aiatolás, assim como quão forte será a disposição da atual liderança moderada iraniana em convencer a linha dura interna das benesses do acordo. Por sua vez, o sentido final do acordo está ligado a qual tipo de poder nuclear latente que Teerã terá no futuro próximo. Será ele brando, agressivo ou em lenta construção é algo ainda a ser observado e dependente das consequências do acordo firmado recentemente.











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